Dor lombar aguda é extremamente comum, e a maioria dos adultos apresentará um episódio em algum momento de suas vidas. Dor lombar é a principal causa de anos vividos com incapacidade mundialmente. Diversos fatores psicossociais que predizem o desenvolvimento de dor crônica já foram identificados em pacientes com dor lombar aguda. Estes fatores incluem stress no ambiente de trabalho, stress em geral, bem como ansiedade e catastrofização. Educação em dor involve a explicação a respeito da neurofisiologia da dor e a potencial sensibilização do sistema nervoso, e sugere estratégias para reduzir este processo de sensibilização através de técnicas de auto-manejo. As diretrizes de prática clínica mais atuais recomendam educação em dor entregue de modo intensivo por profissionais de saúde para pacientes de dor lombar aguda identificados como tendo de alto risco de cronificação dos sintomas.
O estudo Preventing Chronic Low Back Pain (PREVENT) recrutou 202 participantes da atenção primária identificados com dor lombar aguda e alto risco de desenvolvimento de dor crônica utilizando o questionário de avaliação de prognóstico Predicting the Inception of Chronic Pain (PICKUP) tool. O estudo PREVENT comparou comparou educação em dor (2 sessões intensivas de 1 horas de educação) comparada a educação placebo (escuta ativa, porém sem que o terapeuta entregasse quaisquer informação ou aconselhamento para o paciente, durante duas sessões 1 hora). O tratamento usual recebido pelos pacientes foi oferecido pelos seus profissionais de saúde habituais. O desfecho primário foi intensidade da dor (mensurada na escala numérica de dor, 0-11) após 3 meses. O desfecho dor também foi avaliado após 6 meses e 12 meses.
Após 3 meses, não houve diferença estatisticamente significativa na intensidade de dor entre os grupos (diferença entre os grupos -0,3 IC95% -1,0 a 0,3). Comparado ao grupo placebo, o grupo que recebeu educação em dor utilizou menos serviços de saúde após 3 meses (odds ratio 0,43, IC95% 0,19 a 0,93) and apresentou menos recorrência de dor lombar após 12 meses (odds ratio 0,44 IC95% 0,24 a 0,82). Estes desfechos secundários podem apresentar importantes implicações para o sistema de saúde. O estudo demonstrou a necessidade do uso sensato de recuros clínicos como a educação em dor. Mais estudos são necessários para que se desenvolvam métodos para modificar crenças e atitiudes sobre dor e incapacidade nesta coorte de pacientes com alto risco de cronificação. Se a educação em dor não faz uma grande diferença, quais outras estratégias podem reduzir o risco de desenvolvimento de dor crônica? Talvez o tratamento placebo oferecido pelo estudo baseado em escuta ativa, promovendo nos pacientes a sensação de estarem sendo escutados, seja de fato terapêutico?
Ouça à entrevista de Adrian Traeger (pesquisador de pós-doutorado do Institute for Musculoskeletal Health, University of Sydney e líder do estudo) ao programa National’s Health Report, da rádio ABC (a entrevista está na língua inglesa).
Traeger AC, et al. Effect of intensive patient education vs placebo patient education on outcomes in patients with acute low back pain — a randomized clinical trial. JAMA Neurol 2019;76(2):161-9