Pessoas com doenças não-comunicáveis, tais como câncer, doenças respiratórias e diebetes tipo II apresentam maiores taxas de sintomas depressivos que a população em geral. Sintomas de depressão também representam um fator de prognóstico adverso para estas condições. O exercício aerobio é aceito como uma opção de tratamento efetiva para depressão em pessoas com e sem comorbidades. Esta revisão sistemática determinou o efeito do exercício aerobio comparado ao tratamento convencional nos sintomas de depressão em pessoas com doenças crônicas.
Buscas abrangentes em três bases de dados identificaram estudos, randomizados ou não, que recrutaram adultos com doença cardiovascular, câncer, doenças respiratórias ou diabetes tipo II. O estudo tinha que comparar exercício aerobio (ao menos duas vezes por semana com intensidade ao menos moderada por um mínimo de 4 semanas) a tratamento convencional. Estudos em que o tratamento convencional envolveu algum tipo de exercício foram excluídos. O desfecho foi depressão determinada por avaliação clínica ou mensurada com escalas validadas. Dois pesquisadores selecionaram os estudos e extraíram os dados independentemente. A qualidade dos estudos foi avaliada com o checklist Downs and Black, e a certeza da evidência foi avaliada com a ferramenta Grading of Recommendations, Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Metanálises foram reportadas como standardised mean difference (SMD) e intervalos de confiança (IC) 95%. Cinco análises de subgrupo foram pre-especificadas e estimadas via meta-regressão: (1) tipo de condição; (2) frequência do exercício (< = 3 vs > 3 sessões por semana); (3) duração das sessões (< = 30 vs > 30 minutos); (4) duração do programa (< 12 vs >= 12 semanas).
30 ensaios clínicos randomizados e 2 estudos não randomizados (4.111 participantes) foram incluídos na revisão, dentre os quais 24 puderam ser incluídos na metanálise. As intervenções foram entregues entre 2 a 5 sessões por semana durante 20 a 80 minutos por 4 a 24 semanas. Onze estudos incluíram participantes com doenças cardiovasculares, 10 estudos em pessoas com câncer, 2 com doenças respiratórias e 1 com diabetes tipo II.
Há evidência de baixa certeza que exercício melhora sintomas de depressão em pessoas com condições crônicas (SMD 0,5; IC 95% 0,25 a 0,76; 24 estudos) comparado a tratamento usual. Há evidência de moderada certeza que exercício aerobio melhora sintomas depressivos em pessoas com doença cardiovascular (SMD 0,67; IC 95% 0,35 a 0,99; 11 estudos), e evidência de baixa certeza (SMD 0,22; IC 95% 0,07 a 0,37; 10 estudos). Há evidência de baixa certeza sobre a ausência de efeito do exercício em doenças respiratórias (SMD 0,98; IC 95% -0,01 a 1,96; 2 estudos) e diabetes (SMD 0,11; IC 95% -0,43 a 0,65; 1 estudo). Meta-regressão identificou que a frequência, duração e duração dos programas não influenciaram o tamanho do efeito.
Exercício aerobio traz efeitos potencialmente importantes clinicamente em sintomas depressivos em pessoas com doenças não-comunicáveis. A certeza da evidência é maior em pessoas com doenças cardiovasculares. Os programas de exercício investigados foram direcionados às patologias de base, não a sintomas depressivos em si. É também importante notar que esta revisão não objetivou avaliar o efeito do exercício em pessoas com diagnóstico clínico de depressão severa.
Beland M, et al. Aerobic exercise alleviates depressive symptoms in patients with a major non-communicable chronic disease: a systematic review and meta-analysis. Brit J Sports Med 2020;54:272-8