Acidente vascular encefálico (AVE) é a terceira causa de incapacidade e segunda causa de mortalidade mundialmente. Unidades especializadas no tratamento de pacientes pós acidence vascular encefálico promovem tratamentos baseados em evidências e multidisciplinares, com envolvimento de médicos, enfermeiras, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde. O objetivo desta revisão sistemáica foi avaliar os efeitos destas unidades especializadas de tratamento comparados a modelos de internação hospitalar alternativos, como por exemplo tratamento convencional ou outros tipos de unidade especializada de tratamento de AVE.
Treze bases de dados foram pesquisadas (incluindo Medline, Embase e Cochrane CENTRAL), além de outras estratégias (tais como checagem de referências, e contatando pesquisadores experts na área) para identificar ensaios clínicos randomizados que compararam os efeitos de unidades especializadas de tratamento de AVE a outros modelos de internação, como tratamento convencional hospitalar ou outros tipos de unidades especializadas. Estudos pseudo-randomizados e ensaios clínicos cruzados foram excluídos. Foram incluídos todos os tipos de unidade de tratamento especializadas de tratamento (incluindo alas hospitalares dedicadas a AVE, equipes moveis, e alas hospitalares de reabilitação mistas). Foram considerados comparadores validos para esta revisão qualquer outro modelo de internação hospitalar, como por exemplo tratamento convencional ou outros tipos de unidade especializada de tratamento. O desfecho primário envolveu uma combinação de morte, dependência funcional ou necessidade de institucionalização ao final do período de seguimento do estudo. Dois revisores selecionaram os estudos, extraíram dados e realizaram risco de viés. Risco de viés foi avaliado com a ferramenta da Cochrane. A certeza da evidência foi avaliada com a Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (ou GRADE). Metanálise foi realizada para avaliar o risco de mau desfecho. Resultados foram expressos como odds ratio e intervalo de confiança (IC) 95%. Quatro análises de subgrupo foram realizadas: (i) idade maior ou menor de 75 anos; (2) homem versus mulher; (3) AVE moderado versus severo; (4) AVE isquêmico ou hemorrágico. Metanálise em rede foi realizada para explorar o impacto de diferentes modelos de unidades especializadas nos desfechos.
29 ensaios clínicos (5.902 participantes) foram incluídos nas análises. 20 ensaios clínicos (4.127) compararam unidades especializadas de tratamento versus tratamento convencional em uma ala hospitalar geral; em 6 ensaios clínicos (982 participantes) diversos modelos de unidades especializadas de tratamento foram comparadas; e em 3 ensaios clínicos (793 participantes) incorporaram mais de uma comparação.
Houve evidência de moderada certeza que unidades especializadas de tratamento reduziram a chance de mau desfecho ao final do período de follow-up (mediana 1 ano) comparado a tratamento convencional (odds ratio 0,77 IC 95% 0,69 a 0,87; 26 ensaios clínicos, 5.336 participantes). O desfecho foi dependente da idade, sexo, severidade da doença e tipo de AVE.
A metanálise em rede revelou que ofeito foi maior quando as unidades especializadas de tratamento consistiram em alas especializadas no tratamento de AVE. Utilizando tratamento convencional alas hospitalares gerais como comparador, a chance de mau desfecho foi de 0,74 (IC 95% 0,62 a 0,89; evidência de certeza moderada) para alas especializadas de tratamento de AVE, 0,88 (IC 95% 0,58 a 1,34; evidência de baixa certeza) para equipes moveis e 0,70 (IC 95% 0,52 a 0,95; evidência de baixa certeza) para unidades mistas de reabilitação.
Pacientes pós AVE tratados em unidades especializadas de tratamento apresentam melhores desfechos. O benefício foi indpendente da idade, sexo, severidade da doença, tipo, e foi mais pronunciado em alas hospitalares especializadas. Para cada 100 pacientes com AVE recebendo tratamento em unidades especializado, dois pacientes adicionais sobreviverão, seis mais voltarão a ser independentes, e seis mais voltarão a viver em casa.
Langhorne P, et al. Organised inpatient (stroke unit) care for stroke: network meta-analysis. Cochrane Database Syst Rev 2020;Issue 4