As luxações anteriores do ombro estão entre as lesões de ombro mais comuns em atletas adolescentes e ocorrem frequentemente após trauma agudo. Apesar dos vários estudos comparando as taxas de instabilidade recorrente após a estabilização cirúrgica e imobilização com tipoia não operatória para pacientes com a primeira luxação anterior do ombro, permanece incerto qual a melhor abordagem de tratamento.
Esta revisão sistemática teve como objetivo estimar os efeitos da estabilização cirúrgica para pessoas com a primeira luxação anterior do ombro na instabilidade recorrente, necessidade de um procedimento de estabilização futuro, amplitude de movimento e função em comparação com a imobilização com tipoia.
As pesquisas foram realizadas em sete base de dados (incluindo PubMed, Embase e Cochrane Library) para identificar ensaios clínicos controlados aleatorizados investigando os efeitos da estabilização cirúrgica comparado a imobilização com tipoia para o tratamento da primeira luxação anterior do ombro nas taxas de instabilidade recorrente.
Os desfechos foram instabilidade recorrente, cirurgia de estabilização subsequente, amplitude de movimento, função avaliada pelo Western Ontario Shoulder Instability Index, e complicações. Apenas os desfechos relatados por pelo menos três estudos foram incluídos. Dois revisores independentes selecionaram os estudos para inclusão. As discordâncias foram resolvidas por discussão ou por arbitragem de um terceiro revisor. Os dados foram extraídos por um revisor e verificados por um segundo revisor. A qualidade dos estudos foi avaliada utilizando a versão 1.0 da ferramenta de risco de viés da Cochrane. A meta-análise foi usada para agrupar os estudos e calcular a razão de risco entre os grupos e o intervalo de confiança de 95% (IC) para instabilidade recorrente e cirurgia de estabilização subsequente.
Cinco estudos (259 participantes) foram incluídos na revisão. A idade média dos participantes e a porcentagem do sexo masculino foi de 24 anos e 87% no grupo operatório, e 23 anos e 89% no grupo não operatório. Quatro estudos usaram procedimentos artroscópicos de Bankart semelhantes e um estudo utilizou um procedimento aberto de Bankart. Os participantes de todos os estudos foram submetidos à cirurgia entre 10 e 28 dias após a luxação anterior do ombro e foram imobilizados com uma tipoia de rotação interna por 1-4 semanas no pós-operatório. A abordagem não cirúrgica em 4 estudos envolveu colocar os participantes em uma tipoia de rotação interna por 1-4 semanas. Em 1 estudo os participantes foram imobilizados com uma tipoia de rotação externa e abdução por 3 semanas. Os protocolos de fisioterapia foram idênticos entre os grupos operatório e não operatório em todos os estudos e envolveram movimento ativo ou passivo mínimo durante a fase de imobilização (cerca de 3 semanas), rotação externa ativa e abdução até 6 semanas, amplitude de movimento irrestrita após 6-12 semanas, e exercícios de resistência posteriormente. Todos os estudos apresentavam alto risco de viés devido à incapacidade de cegar os participantes (viés de desempenho) e terapeutas e/ou avaliadores de resultados (viés de detecção).
A estabilização cirúrgica reduziu o risco de instabilidade recorrente em 83% (IC 95% de 67% a 92%) e o risco de cirurgia de estabilização subsequente em 83% (IC 95% de 59% a 93%) em comparação com a imobilização com tipoia. Os achados foram os mesmos ao incluir apenas estudos em que os participantes do grupo não operatório foram imobilizados em rotação interna. Todos os 3 estudos que avaliaram a amplitude de movimento não encontraram diferença entre estabilização cirúrgica e imobilização com tipoia. Dos 3 estudos que avaliaram as pontuações do Western Ontario Shoulder Instability Index, 1 estudo encontrou pontuações mais altas no grupo cirúrgico e 2 estudos não encontraram diferença. Duas complicações foram relatadas no grupo operatório e nenhuma no grupo não operatório.
A estabilização cirúrgica para a primeira luxação anterior do ombro reduz o risco de instabilidade recorrente e a necessidade de um procedimento de estabilização futuro em comparação com o tratamento não cirúrgico envolvendo imobilização com tipoia. É incerto se a estabilização cirúrgica é superior ao tratamento não cirúrgico para melhorar a função do ombro e a amplitude de movimento.
Belk JW, et al. Shoulder stabilization versus immobilization for first-time anterior shoulder dislocation: a systematic review and meta-analysis of level 1 randomized controlled trials. Am J Sports Med 2022 Feb 11:Epub ahead of print.