Durante a gestação, as mulheres podem sentir dor lombar, dor pélvica ou uma combinação de ambas (dor lombopélvica), o que afeta as atividades da vida diária e sua qualidade de vida. As taxas de incidência são estimadas entre 57% e 90% para a dor lombar e entre 4% e 76% para a dor pélvica. Para as mulheres que apresentam dor lombar ou pélvica durante a gravidez, até a metade continuará a ter alguma queixa de dor um ano após o parto.
Essa revisão sistemática teve como objetivo investigar a efetividade e aceitabilidade de curto e longo prazo de uma estratégia de prevenção comparada ao controle, em episódios de dor lombar, dor lombopélvica ou dor lombar e pélvica em mulheres durante a gestação.
Bases de dados eletrônicas foram pesquisadas desde o início até janeiro de 2023. Foram incluídos estudos controlados randomizados e quasi-randomizados que incluíram mulheres gestantes sem dor lombar ou pélvica no início do estudo. Os estudos precisavam comparar um grupo experimental que recebesse uma estratégia de prevenção com o objetivo de evitar dor lombar, pélvica ou lombopélvica durante a gestação com um grupo de controle que não recebesse nenhuma intervenção, placebo, sham ou controle de lista de espera. Os estudos também precisavam incluir pelo menos um dos desfechos de interesse, ou seja, incidência de dor lombar, pélvica ou lombopélvica, licença médica e aceitabilidade em curto prazo [<12 semanas] e longo prazo [> 12 semanas]. A aceitabilidade foi medida pelo número de participantes que se retiraram devido a qualquer motivo do número total de participantes randomizados para cada grupo. O risco de viés em cada estudo incluído foi avaliado usando a escala PEDro.
A meta-análise foi conduzida usando um modelo de efeitos aleatórios, com o relato de risco relativo (RR) e intervalos de confiança (IC) de 95%. Os estudos foram agrupados por estratégia de prevenção específica, desfechos e períodos de tempo. A abordagem GRADE foi usada para avaliar a certeza da evidência, com a certeza da evidência começando em moderada, pois não foi possível avaliar a ocorrência de viés de publicação (pequeno número de estudos).
Essa revisão incluiu seis estudos controlados randomizados com 2.231 gestantes com idade entre 23 e 31 anos e idade gestacional de 12 a 24 semanas. Todas as mulheres eram gestantes de baixo risco com um único filho e a maioria era considerada sedentária. Os estudos elegíveis avaliaram duas estratégias: educação combinada com exercícios e exercícios isolados. Todos os estudos tinham baixo risco de viés (escore PEDro mediano 7, variação de 6 a 8). Todos os estudos forneceram dados sobre novos eventos de dor lombar, pélvica ou lombopélvica.
O exercício praticado de forma isolado provavelmente reduz o risco de dor lombar (RR 0,92, IC 95% 0,85-0,99; 2 estudos, n= 621, moderada certeza de evidência), tem efeitos incertos na redução do risco de dor lombopélvica (RR 0,87, IC 95% 0,53-1,44, 1 estudo, n= 105, muito baixa certeza de evidência) e provavelmente não reduz o risco de dor lombopélvica (RR 0,92, IC 95% 0,68-1,25, 2 estudos n= 1156, moderada certeza de evidência) no longo prazo. O exercício praticado de forma isolado é provavelmente aceitável entre as mulheres com dor lombopélvica (RR 0,60, IC 95% 0,42-0,84, evidência de certeza moderada), mas incerto entre as mulheres com dor lombar (evidência de baixa certeza).
A educação combinada com exercícios praticado de forma isolado provavelmente não reduz o risco de dor lombar ou dor pélvica no curto prazo (dor lombar: RR 1,06, IC 95% 0,85-1,31; dor pélvica: RR 1,19, IC 95% 0,71-1,98) ou no longo prazo (dor lombar: RR 1,05, IC 95% 0,85-1,30; PGP: RR 1,02, IC 95% 0,80-1,29) (2 estudos, n= 438; moderada certeza de evidência). Houve incerteza em relação à educação combinada com exercícios na dor pélvica (muito baixa certeza de evidência) e nenhuma diferença entre os grupos de intervenção e controle para aceitabilidade em curto prazo (muito baixa certeza de evidência) e longo prazo (moderada certeza de evidência) (2 estudos, n= 454).
Atualmente, há moderada certeza de evidência que apoiam a prática do exercício isolado como uma intervenção aceitável para gestantes com dor lombopélvica e tem um pequeno efeito protetor em relação a episódios de dor lombar a longo prazo. Ainda são necessários mais estudos de alta qualidade para confirmar os efeitos na prevenção da dor lombar, dor pélvica e dor lombopélvica a curto e longo prazo.
Santos FF, Lourenço BM, Souza MB, Maia, LB, Oliveira VC, Oliveira MX. Prevention of low back and pelvic girdle pain during pregnancy: a systematic review and meta-analysis of randomised controlled trials with GRADE recommendations. Physiotherapy 118 (2023) 1–11 https://doi.org/10.1016/j.physio.2022.09.004