Dr Kate Scrivener é clínica, pesquisadora e professora de fisioterapia neurológica em Sydney, Austrália. Kate possui experiência em reabilitação pós-AVE, com ênfase na utilização de exercícios e tecnologia para empoderar pacientes pós AVE em sua reabilitação. Ela é Senior Lecturer na Macquarie University e é membro da StrokeEd Collaboration. Como chefe do departmento de neurologia no Concentric Rehabilitation Centre, Kate está envolvida tanto no atendimento de pacientes quanto na orientação da equipe. Um importante aspecto do seu papel no serviço é garantir que toda a equipe esteja sempre ativamente engajada e por dentro das evidências mais atuais na prática clínica.
Proporcionar a melhora na função do membro superior e prevenir complicações secundárias como a dor são grandes desafios da reabilitação neurológica pós acidente vascular encefálico. Kate recentemente leu três artigos a respeito deste tópico.
Este é um ensaio clínico randomizado de larga escala (n = 770) e alta qualidade metodológica envolvendo participantes com acidente vascular encefálico e limitação funcional no braço moderada a severa. O estudo possui três grupos de tratamento: tratamento assistido por dispositivos eletrônicos, treinamento intensivo de repetição de tarefa, e tratamento convencional. Tanto o grupo tratamento assistido por dispositivos eletrônicos quanto o grupo treinamento intensivo completaram cerca de 24 horas de trainemento do braço ao longo de um período de 12 semanas. Não houve diferença signifcativa entre os grupos no desfecho primário (Action Research Arm Test) 3 meses após a randomização. Isso significa que tanto treinamento assistido por dispositivos eletrônicos quanto treinamento intensivo de repetição de tarefas não foram superiores ao tratamento convencional. Kate diz: “Na Austrália há mínimo acesso a dispositivos eletrônicos na prática clínica. Este ensaio clínico sugere que não há vantagem em utilizar estes dispositivos em comparação ao tratamento convencional já realizado.” Kate achou interessante que entre 42%-50% dos participantes em cada grupo atingiram melhoras clinicamente importantes no desfecho primário. Ela diz: “Isso sugere que a mudança na função do braço é possível para alguns pacientes após acidente vascular encefálico, e mais estudos estão sendo realizados para que estes indivíduos sejam melhor identificados.”
Este artigo também desafia o entendimento prévio de que não é possível melhorar a função motora após acidente vascular encefálico, especialmente na fase crônica. Este é um estudo clínico não controlado involvendo uma coorte significativa de pacientes com acidente vascular encefálico (N = 224) que receberam intervenções em média 18 meses após o evento. Indivíduos com paralisia completa ou espasticidade severa foram excluídos. A intervenção envolveu a execução de tarefas funcionais repetitivamente e de modo intensivo, tendo os participantes sido expostos a 90 horas de intervenção ao longo de um período de 3 semanas. No seguimento de 6 meses destes pacientes, 62% atingiram melhoras clinicamente importantes no Action Research Arm Test. Kate diz: “Este artigo nos mostra que é possível modificar a função do braço. 90 horas de intervenção é um volume substancialmente grande, e esta foi a primeira vez que li um relato de intervenção tão intensiva como esta”. Kate compreende, no entanto, que este artigo apenas reporta as mudanças pré e pós tratamento para um único grupo, e que tal intervenção precisa ainda ser avaliada em um ensaio clínico randomizado de alta qualidade metodológica.
Esta revisão sistemática com metanálise incluiu 40 ensaios clínicos randomizados e 2718 participantes e quantificou os efeitos da toxina botulínica na espasticidade do membro superior após acidente vascular encefálico. Os desfechos reportados nesta revisão foram baseados na Classificação Internacional de Funcionalidade. A revisão concluiu que toxina botulínica reduz a resistência a movimentos passivos e melhora a capacidade do paciente se auto-gerenciar, mas não melhora a função da mão ou braço, dor, e amplitude de movimento. Kate diz: “Esta revisão é bastante útil para clínicos porque pacientes frequentemente nos perguntam a respeito deste tratamento. Esta revisão fornece a resposta a esta pergunta, e facilita o processo de tomada de decisão compartilhada entre terapeutas e pacientes a respeito deste tratamento.