2020 tem sido um ano excepcional para a comunidade mundial de fisioterapia, que vêm enfrentando os desafios da pandemia do COVID-19, demonstrando resiliência e versatilidade. A Sociedade Americana de Psicologia define resiliência como “o processo de adaptar-se em situações de adversidade, trauma, tragédia, ameaças ou estresse”. De acordo com dicionário Cambridge, versatilidade é “uma habilidade ou vontade de mudar a fim de se adequar a diferentes condições”.
Para o dia mundial da fisioterapia, o time do PEDro apresentará cinco fisioterapeutas inovadores ao redor do mundo que demonstraram liderança apesar das adversidades. Estes fisioterapeutas têm trabalhado proativamente através de cuidados clínicos, educação e pesquisas para superar circunstâncias desafiadoras. Eles vêm demonstrando determinação, flexibilidade, colaboração, visão de longo prazo e habilidades de raciocínio de alto calibre.
Nós entrevistamos Bishwas Shrestha, neurofisioterapeuta consultor no Hospital Mediciti do Nepal e vice-presidente sênior da Associação de Fisioterapia do Nepal. Bishwas assegurou que seu time seguisse as regulamentações de distanciamento social, higienização das mãos e utilização de equipamentos de proteção pessoal, e desenvolveram protocolos de triagem para pacientes que precisavam de atendimento ambulatorial prioritário. A Associação de Fisioterapia do Nepal distribuiu equipamentos de proteção pessoal para os fisioterapeutas que estavam na linha de frente, e contribuiu para a educação profissional da fisioterapia online durante a pandemia. A Associação também adaptou as orientações da Organização Mundial da Saúde e World Physiotherapy para o cenário do Nepal, criando as “Diretrizes de prática clínica para o tratamento fisioterapêutico de pacientes com COVID-19 no ambiente hospitalar agudo no Nepal”. Em relação a versatilidade e resiliência, Bishwas reflete: “versatilidade é a arte de criar um novo normal, e é o que estamos fazendo agora nesta pandemia, e a resiliência cria mais capacidade de adaptação. Todos nós sabemos que a fisioterapia é uma parte da ciência da saúde, que continua evoluindo e mudando com o tempo. Então, versatilidade e resiliência na prática da fisioterapia são qualidades indispensáveis”.
Renato José Soares, professor na Universidade de Taubaté e diretor do Grupo Equality consultoria e assessoria em fisioterapia em São Paulo (Brasil), compartilhou as suas ideias sobre a adaptação da prática fisioterapêutica durante a pandemia. O seu trabalho clínico é focado em tratamento conservativo baseado em evidência para dor na coluna, no qual o objetivo é reduzir as taxas de cirurgia na coluna. No começo da pandemia, ele colaborou com alguns amigos para acelerar a criação de uma startup de telerreabilitação chamada “Hi! – Healthcare Intelligence”, que já realizou o treinamento de 20 fisioterapeutas e realizou mais de 3,150 atendimentos. A tecnologia da telerreabilitação tem sido uma aliança vital para permitir que os pacientes continuem recebendo os tratamentos. O seu conselho para os clínicos a respeito da versatilidade e resiliência na prática fisioterapêutica é: “baseie suas decisões em pesquisas clínicas de alta qualidade, seja flexível para novos desafios profissionais, e tome decisões que atendam aos melhores interesses da saúde pública”.
Benita Oliver é professora de fisioterapia musculoesquelética na Universidade de Witwatersrand e diretora de pesquisa do Wits Sport and Health Research Group em Joanesburgo, África do Sul. Em resposta a pandemia, Benita criou ferramentas acadêmicas online e recursos para apoiar a pesquisa e a educação. Durante esse período ela criou a plataforma “Research Masterminds”, que apoia a produtividade em pesquisa. Um evento bienal emblemático que ela organiza com o seu time, o “Dia da Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde do Wits”, é um dos muitos eventos que teve de ser rapidamente adaptado para a forma online e que precisou respirar fundo, ter um raciocínio lógico e resiliência para se concretizar. Ela reconhece o trabalho dedicado dos seus colegas que converteram centenas de horas de ensino de graduação para uma plataforma online em um curto período de tempo. Benita tem apoiado os estudantes de pós-graduação que tiveram de interromper a coleta de dados devido à pandemia, ajudando-os a resolver os problemas de forma criativa. Ela recomenda a realização de reuniões online para manter a produtividade, e descobriu que o Microsoft Teams e o sistema de gerenciamento de aprendizagem Moodle são muito úteis em seu trabalho. Em relação a resiliência, Benita defende: “não tenha medo de cometer e aprender com os seus erros”.
Rachael Moses (fisioterapeuta respiratória consultora e diretor associado de reabilitação da Royal Brompton e Harefield Foundation Trust e líder profissional no National Health Service Nightingale Hospital Londres, Reino Unido) e Michelle Kho (professora associada na School of Rehabilitation Science, Universidade McMaster e clínica na unidade de cuidados intensivos no St Joseph’s Healthcare Hamilton, Canada) fizeram parte do time inspirador que rapidamente produziram o “Manejo fisioterapêutico para COVID-19 em ambiente hospitalar para casos agudos: Recomendações para guiar a pratica clínica”.
Rachael Moses gostaria de homenagear a incrível versatilidade dos fisioterapeutas no Reino Unido, que saíram de suas zonas de conforto para providenciar tratamentos clínicos de alta qualidade durante a pandemia. No Nightingale Hospital London ela viu fisioterapeutas militares e do setor particular, com experiência em fisioterapia respiratória, se apresentando para ajudar no tratamento de pacientes com COVID-19 em estado crítico. Rachael destacou a importância de se realizar fisioterapia respiratória no início de carreira, pois essas podem ser habilidades incrivelmente úteis para se ter em uma crise de saúde pública. As unidades de cuidado intensivo no Reino Unido tiveram de aumentar sua capacidade de 2 para 4 vezes mais, e fisioterapeutas com experiência recente na área respiratória rapidamente se aprimoraram para o manejo de pacientes críticos. Fisioterapeutas com experiência na área neurológica ou musculoesquelética foram realocados para trabalhar em enfermarias de reabilitação médica (lidando com problemas como falta de ar, fadiga e paralisia nervosa) e em “equipes de pronação” (auxiliando a mudar os pacientes para a posição de prono em unidades de cuidados intensivos). Ela comenta sobre a importante contribuição feita pelos “trabalhadores protegidos” (ou seja, aqueles com alto risco de contaminação pelo COVID-19) para o ensino online e escrita de políticas e diretrizes de práticas clínicas. Ela faz uma reflexão sobre como o COVID-19 mudou a forma como nós compartilhamos recursos como diretrizes de prática clínica e políticas de controle de infecção, e que tem havido muito mais concentração de conhecimento e recursos do que no passado.
Michelle Kho compartilhou seus pensamentos sobre como os fisioterapeutas têm demonstrado flexibilidade e trabalho em equipe local e internacional. Como presidente de pesquisa do Canadá em reabilitação de cuidados críticos e tradução de conhecimento, ela liderou o desenvolvimento de um guia multidisciplinar intitulado “Reabilitação para pacientes com COVID-19”. Ela é uma das investigadoras locais para o estudo SPRINT-SARI, um estudo observacional internacional, multicêntrico, prospectivo e de incidência de pacientes com infecção respiratória aguda grave. Ela destaca que fisioterapeutas tem se envolvido na coleta de dados epidemiológicos para o estudo SPRINT-SARI para ajudar a trazer informações para a pandemia do COVID-19. Michelle elogia a resiliência de seus colegas de fisioterapia do St Joseph’s Healthcare Hamilton, que, além de fornecer tratamento durante a pandemia, tiveram que lidar com a inundação do departamento. Ela reconhece a capacidade dos fisioterapeutas e assistentes de fisioterapia de “rodar” nas áreas clínicas, colaborando para coordenar o número de casos com outros fisioterapeutas quando necessário.