As pessoas precisam se comunicar fluentemente para participar adequadamente de algumas intervenções fisioterapêuticas, por exemplo, intervenções para promoção da saúde ou modificação de comportamento. A proficiência linguística também é um requisito para participar da maioria dos ensaios clínicos. Esse pré-requisito pode causar um obstáculo para pessoas de origens culturais e linguísticas diversas que têm barreiras linguísticas para acessar tratamentos clínicos. A falta de proficiência linguística os impede de se envolver totalmente em intervenções de fisioterapia e serem representados em ensaios clínicos.
Recentemente, foi publicado um estudo meta-epidemiológico que identificou ensaios de fisioterapia que especificavam a proficiência linguística como critério de elegibilidade. Ensaios controlados aleatorizados avaliando pelo menos um tipo de intervenção fisioterapêutica para dor lombar foram identificados através do Physiotherapy Evidence Database (PEDro), LILACS e SciELO desde o início até maio de 2021. O estudo comparou as características dos ensaios clínicos (por exemplo, país de recrutamento, categoria de intervenção, ano de publicação) e estimou a proporção de pessoas que foram excluídas desses ensaios clínicos devido à falta de proficiência no idioma.
O estudo incluiu 2.555 ensaios clínicos, dos quais 2.538 foram indexados no PEDro. Um critério de elegibilidade baseado no idioma foi especificado em 463 (18,1%) ensaios clínicos. A proporção foi maior em ensaios clínicos conduzidos na América do Norte e Europa, publicados após 2000, que investigaram intervenções cognitivas e comportamentais e tiveram grandes tamanhos de amostra. Destes 463 ensaios clínicos, 75 deles (16,2%) relataram que um total de 2.152 pessoas foram excluídas devido à falta de proficiência linguística, o equivalente a 12,5% dos participantes randomizados.
A razão para um critério de elegibilidade baseado no idioma foi justificada em 41 ensaios clínicos; proficiência linguística foi necessária para obter o consentimento informado, preencher questionários, ler as informações ou materiais, participar de entrevistas ou discussões em grupo, seguir as instruções de tratamento e comunicar-se com os terapeutas. A exigência de idioma removeu a oportunidade de populações linguisticamente diversas de participar e serem representadas em ensaios clínicos.
Ensaios clínicos futuros de fisioterapia poderiam minimizar a exclusão de pessoas com falta de proficiência linguística, implementando estratégias para lidar com possíveis barreiras linguísticas. Bons exemplos incluem o recrutamento de intérpretes ou equipe multilinguística ou o fornecimento de questionários validados em outros idiomas. Compreender essas questões e desenvolver estratégias direcionadas são de grande importância ao planejar a prestação de serviços de fisioterapia para comunidades culturais e linguisticamente diversas.