Diretrizes de prática clínica recomendam os exercícios como a primeira opção para o tratamento da dor lombar crônica. Uma revisão sistemática Cochrane resumida em um blog da PEDro em novembro de 2021 encontrou que terapia de exercício é mais provável de reduzir a dor quando comparado a intervenção mínima, mas o impacto da terapia de exercício nas limitações funcionais quando comparado a intervenção mínima, e na dor e nas limitações funcionais quando comparados com outros tratamentos conservadores é provavelmente pequeno. Entretanto, esta revisão Cochrane não investigou os efeitos de diferentes tipos de terapia de exercício em comparação com controles sem exercício, nem comparações diretas de diferentes tipos de exercícios. Essa network meta-análise (ou meta-análise de rede) teve como objetivo estimar os efeitos de diferentes terapias de exercícios na dor e função em controles sem exercício e outros tipos exercícios em adultos com dor lombar crônica.
Guiada por um protocolo registrado prospectivamente, buscas sensitivas foram realizadas em sete bases de dados (incluindo Cochrane CENTRAL, Medline e PEDro) e dois registros de ensaios clínicos para identificar ensaios clínicos aleatorizados avaliando terapia de exercício para adultos com dor lombar (data da busca mais recente: 7 de dezembro de 2020). Os pacientes eram adultos com dor lombar crônica não específica, com pelo menos 12 semanas de duração. A intervenção foi qualquer terapia de exercício prescrita ou planejada por um profissional de saúde que envolvesse realizar atividades específicas, posturas e/ou movimentos com o objetivo de melhorar os desfechos para dor lombar. O tipo de terapia de exercício foi classificado dentro de 11 categorias: fortalecimento global; alongamento; fortalecimento do core (ou exercícios de controle motor); flexibilidade; aeróbico; restauração funcional; McKenzie; Pilates; yoga; mistos; e outros. Os comparadores foram controles sem exercício e uma categoria diferente de terapia de exercício. O grupo controle sem exercícios foram classificados como intervenção mínima (nenhum tratamento, cuidados usuais, placebo, educação e intervenções ineficazes, como eletroterapia) e outros tratamentos conservadores (terapia psicológica, medicamento anti-inflamatório ou analgésico, relaxamento, terapia manual, fisioterapia sem exercício, back school). Os resultados primários foram intensidade da dor e limitações funcionais avaliadas com qualquer escala, com os dados transformados em uma escala de 0-100 pontos (onde 0 é nenhuma dor ou nenhuma limitação funcional) para as análises. Uma diferença de 15 pontos na dor e 10 pontos na limitação funcional foram pré-especificadas para serem consideradas clinicamente importantes. Se os resultados foram avaliados em múltiplos pontos no tempo, os dados da avaliação mais próxima de 3 meses após a aleatorização foram usados para as análises principais. Dois revisores independentes selecionaram os estudos para inclusão e avaliaram a qualidade dos estudos, e as divergências foram resolvidas por discussão ou por arbitragem de um terceiro revisor. Os dados foram extraídos por um revisor e conferidos por pelo menos um outro revisor. A qualidade dos estudos foi avaliada através da primeira versão da ferramenta de risco de viés da Cochrane. A abordagem Confidence in Network Meta-Analysis (CINeMA) foi utilizada para avaliar a certeza da evidência. Pair-wise meta-análises (ou meta-análise de pares) e network meta-análises (ou meta-análise de rede) foram utilizadas para agrupar os estudos e calcular as diferenças médias entre os grupos (e os intervalos de confiança de 95% associados). As duas categorias de grupo comparador sem exercícios (intervenção mínima e outros tipos de tratamentos conservadores) e as 11 categorias de exercícios foram usadas como nodes (ou nós) na network meta-análise (ou meta-análise de rede).
217 estudos (20,969 participantes) foram incluídos nas análises. A média de idade dos participantes era de 44 anos, 56% eram mulheres e a média de intensidade da dor na avaliação inicial foi 51 em uma escala de 0-100 pontos. Os 369 grupos de exercícios foram considerados como fortalecimento do core (110 grupos), mistos (96), fortalecimento global (44), aeróbico (25), Pilates (24), alongamento (17), outros (15), yoga (13), restauração funcional (10), McKenzie (9), e flexibilidade (5). Os 138 grupos comparadores sem exercício foram categorizados como intervenção mínima (86 grupos) e outros tratamentos conservadores (52).
Todas as categorias de terapia de exercício reduziram a intensidade da dor (diferença média -19 a -7 pontos; baixa ou moderada certeza da evidência) e limitações funcionais (-12 a -3; baixa e alta certeza da evidência) comparado a intervenção mínima. Pilates, McKenzie, restauração funcional e fortalecimento do core reduziram a dor (-11 a -6; baixa ou moderada certeza da evidência), e McKenzie, flexibilidade, Pilates e restauração funcional reduziram a limitação funcional (-7 a -3; moderada certeza da evidência) comparado a outros tratamentos conservadores.
Alguns tipos de exercícios foram mais efetivos que outros.
- Pilates reduziu mais a dor do que outras categorias de exercícios (diferença média de -12 a -4 pontos; baixa ou moderada certeza da evidência) e reduziu mais limitações funcionais do que alongamento, outros, aeróbico, mistos, fortalecimento global, yoga, fortalecimento do core e restauração funcional (-7 a -3; moderado).
- McKenzie reduziu mais a dor do que alongamento, aeróbico, flexibilidade, yoga, mistos, outros, e fortalecimento global (diferença média de -8 a -4; certeza da evidência), e reduziu mais limitações funcionais do que alongamento, outros, aeróbico, mistos, fortalecimento global, yoga, fortalecimento do core e restauração funcional (-8 a 4; moderada certeza da evidência).
- Restauração funcional reduziu mais a dor do que alongamento, flexibilidade, aeróbico, yoga, mistos e outros (diferença média de -8 a -4; baixa ou moderada certeza de evidência), e reduziu mais limitações funcionais do que alongamento, outros, aeróbico, mistos e fortalecimento global (-4 a -2; moderada certeza da evidência).
- Fortalecimento do core reduziu mais a dor do que alongamento, aeróbico, flexibilidade, yoga e mistos (diferença média de -6 a -5; baixa certeza da evidência), e moderada certeza da evidência de que exercício para fortalecimento do core reduziu mais limitações funcionais do que alongamento, outros, aeróbico e mistos (-3 a -2; baixa certeza da evidência).
Pilates, McKenzie, restauração funcional e exercícios de fortalecimento do core foram mais efetivos do que outros tipos de terapias de exercícios para reduzir a intensidade da dor e limitações funcionais. Apesar disso, as pessoas com lombalgia crônica devem ser estimuladas a realizar os exercícios de que gostam para promover a adesão.
Para leitores que não estão familiarizados com a network meta-análise (ou meta-análise de rede), recomendamos a leitura de uma nota de pesquisa publicada sobre este tópico em Journal of Physiotherapy.
Hayden JA, et al. Some types of exercise are more effective than others in people with chronic low back pain: a network meta-analysis. J Physiother 2021;67(4):252-62