A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é a maior causa de incapacidade e mortalidade no mundo. Existe evidência de nível 1 que reabilitação pulmonar baseada em exercício melhora a capacidade de exercício, dispneia e qualidade de vida. A tecnologia de telecomunicação pode ser usada para entregar terapia de exercício. Essa revisão sistemática teve como objetivo estimar os efeitos da terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde comparado a nenhum exercício ou terapia de exercício em hospital ou ambulatório e terapia de exercício em casa sem telessaúde, na capacidade de exercício, qualidade de vida, dispneia e custos em pessoas com DPOC estável.
Guiado por um protocolo registrado prospectivamente, buscas sensitivas foram realizadas em 7 bases de dados (incluindo Medline e PEDro), busca manual em resumos de conferências relevantes e lista de referências. Ensaios clínicos controlados aleatorizados envolvendo pessoas com DPOC estável foram incluídos se eles comparassem terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde com: (1) nenhum exercício, (2) terapia de exercício em hospital ou ambulatório, ou (3) terapia de exercício em casa sem telessaúde. Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde foi definida como a entrega de exercício em casa utilizando qualquer tecnologia de telessaúde que fosse mais avançada do que o contato por telefone sozinho (por exemplo, chamada de vídeo em tempo real, plataformas interativas de internet ou aplicativos de smartphone que fornecessem feedback individualizado e objetivos pelo terapeuta ou mediado (automatizado) por um algoritmo). Os desfechos primários foram capacidade de exercício, qualidade de vida, dispneia e custos em um curto (1-4 meses) e longo-prazo (9-12 meses). Dois revisores independentes selecionaram os estudos, extraíram os dados e avaliaram e qualidade dos estudos e a certeza da evidência, com qualquer discordância resolvida por discussão ou arbitragem de um terceiro revisor. A qualidade dos estudos foi avaliada através do instrumento de risco de viés da Cochrane. A certeza da evidência foi avaliada através do Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE). Meta-análises foram utilizadas para estimar e diferença média e o intervalo de confiança (IC) de 95% para cada desfecho para cada comparação.
34 artigos reportando 15 estudos (1,522 participantes) foram incluídos nas análises. Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde foi comparada com nenhum exercício em 7 estudos, terapia de exercício em hospital ou ambulatório em 3 estudos e terapia de exercício em casa sem telessaúde em 6 estudos (observação, 1 estudo comparou exercício entregue com telessaúde comparado a nenhum exercício e comparado a exercício em casa sem telessaúde). A tecnologia avançada de telessaúde consistiu em sessões de exercício supervisionadas/monitoradas em tempo real (2 estudos) e treinamento não-supervisionado com feedback por telessaúde (13 estudos). A dose dos treinamentos de exercício variou de 3-7 sessões/semana durante 1-12 meses.
Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde aumentou a distância de caminhada em 6 minutos (diferença média de 15 m; IC 95% 5 a 24; 4 estudos; 458 participantes; baixa certeza da evidência) e melhorou a qualidade de vida mensurada através do St George Respiratory Questionnaire (diferença média -4%; IC 95% -7 a 0; 4 estudos; 361 participantes; baixa certeza da evidência) e dispneia através da sub-pontuação de dispneia do Chronic Respiratory Questionnaire (diferença média 2 pontos; IC 95% 0 a 4; 2 estudos; 120 participantes; muito baixa certeza da evidência) a curto prazo comparado a nenhum exercício. Meta-análises não puderam ser conduzidas para desfechos a longo-prazo e não havia dados disponíveis para a relação custo-efetividade.
Comparado com terapia de exercício em hospital ou ambulatório, terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde produziu um resultado similar na distância de caminhada em 6 minutos (diferença média 6 m; IC 95% -26 a 37; 2 estudos; 224 participantes; baixa certeza da evidência) e na pontuação da escala de dispneia modificada do Medical Research Council (diferença média 0 pontos; IC 95% 0 a 0; 152 participantes; baixa certeza da evidência), mas melhorou a qualidade de vida avaliada com o St George Respiratory Questionnaire (diferença média -4%; IC 95% -9 a 0; 2 estudos; 224 participantes; baixa certeza da evidência) a curto-prazo. De novo, meta-análises não puderam ser conduzidas para desfechos a longo-prazo e não havia dados disponíveis para a relação custo-efetividade.
Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde teve um efeito similar a terapia de exercício em casa sem telessaúde na distância de caminhada em 6 minutos (diferença média 2 m; IC 95% -16 a 19; 3 estudos; 231 participantes; baixa certeza da evidência) e no score do St George Respiratory Questionnaire (diferença média -14%; IC 95% -28 a 1; 3 estudos; 171 participantes; muito baixa certeza da evidência), mas melhorou a sub-pontuação de dispneia do Chronic Respiratory Questionnaire (diferença média 2 pontos; IC 95% 0 a 4; 2 estudos; 123 participantes; muito baixa certeza da evidência) a curto-prazo. Um estudo (105 participantes) reportou custo-efetividade, com nenhuma diferença no custo total (diferença média EUR -288; IC 95% -3.998 a 3.424). Meta-análises não puderam ser conduzidas para desfechos a longo-prazo.
Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde pode melhorar a capacidade de exercício, dispneia e qualidade de vida comparado a nenhum exercício, embora alguns benefícios possam ser pequenos. Terapia de exercício entregue através de uma tecnologia avançada de telessaúde é geralmente similar a terapia de exercício em hospital ou ambulatório e similar ou melhor que terapia de exercício em casa sem telessaúde.
Bonnevie T, et al. Advanced telehealth technology improves home-based exercise therapy for people with stable chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review. J Physiother 2021;67(1):27-40