News

Uma revisão sistemática identificou que o uso do treinamento dos músculos inspiratórios (TMI) reduziu as complicações pulmonares pós-operatórias (pneumonia, atelectasia) em comparação com a ausência de TMI em pessoas submetidas à cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM).

A cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) é um tratamento cirúrgico comum para diversos tipos de doenças cardiovasculares e coronarianas. No entanto, pessoas submetidas à CRM apresentam alto risco de desenvolver complicações pulmonares pós-operatórias (CPPs). Esta revisão sistemática teve como objetivo sintetizar e avaliar a qualidade das evidências sobre o uso do treinamento dos músculos inspiratórios (TMI), realizado no pré ou pós-operatório, em pacientes submetidos à CRM.

Cinco bases de dados foram pesquisadas para estudos publicados, sem restrição de idioma, desde o início até março de 2023. Os estudos elegíveis eram ensaios clínicos randomizados (ECRs) que utilizaram o TMI em pacientes adultos (>18 anos), antes ou após a cirurgia de CRM. Os comparadores incluíram cuidados usuais, TMI simulado (sham) ou fisioterapia. Os estudos incluídos relataram pelo menos uma complicação pulmonar pós-operatória (pneumonia, atelectasia ou derrame pleural).

O desfecho primário foi a ocorrência de CPPs, mensurada pelas taxas de pneumonia, atelectasia e derrame pleural. Os desfechos secundários foram a função respiratória (incluindo pressões inspiratória e expiratória máximas), tempo de internação hospitalar e capacidade de exercício. Eventos adversos não foram avaliados na revisão. A seleção dos estudos, extração de dados e avaliação da qualidade metodológica, utilizando a ferramenta de Risco de Viés da Cochrane (versão 2), foram realizadas de forma independente por dois autores. A qualidade das evidências foi avaliada apenas para o desfecho primário, utilizando o sistema GRADE (Grading of Recommendations, Assessment, Development, and Evaluation). Meta-análises com modelos de efeitos aleatórios foram utilizadas se a heterogeneidade estatística fosse >50%. Os resultados foram reportados como riscos relativos (RR) ou diferenças médias (DM), com intervalos de confiança (ICs) de 95%. Uma análise de subgrupos comparou os efeitos do TMI pré e pós-operatório sobre a pressão inspiratória máxima (PIM).

Oito estudos com 755 participantes (variação de 20 a 276) foram incluídos na revisão sistemática e meta-análise. Os estudos compararam TMI com cuidados usuais (5 estudos), TMI com fisioterapia (2 estudos) e TMI com TMI simulado (1 estudo). A intervenção foi realizada no período pré-operatório em quatro estudos (n = 621). As intervenções variaram, sendo o TMI realizado de 1 a 2 vezes por dia, com intensidade de 30% a 60% da PIM. A duração da intervenção variou de 3 dias a 4 semanas. O risco de viés foi classificado como “baixo” em 2 estudos, “alguma preocupação” em 3 estudos e “alto” em 3 estudos. O alto risco de viés foi atribuído à falta de ocultação da alocação (2 estudos) e à ausência de cegamento de participantes ou avaliadores (4 estudos).

Comparado com cuidados usuais, TMI simulado ou fisioterapia, o TMI reduziu o risco de complicações pulmonares pós-operatórias — pneumonia (RR = 0,39, IC 95%: 0,25 a 0,62, p < 0,0001, n = 755, 8 estudos, I² = 0%, evidência de qualidade moderada); e atelectasia (RR = 0,43, IC 95%: 0,27 a 0,67, p = 0,0002, n = 244, 6 estudos, I² = 0%, evidência de baixa qualidade); mas não reduziu o risco de derrame pleural (RR = 1,09, IC 95%: 0,62 a 1,93, p = 0,76, n = 244, 6 estudos, I² = 18%, evidência de qualidade muito baixa). Não houve diferenças entre os grupos quanto à capacidade de exercício, porém o grupo intervenção apresentou melhora significativa da função respiratória e redução do tempo de internação hospitalar. A análise de subgrupos mostrou que o TMI pré-operatório levou a maiores melhorias na PIM em comparação ao TMI pós-operatório (DM = 16,55 cmH₂O, IC 95%: 13,86 a 19,24, p < 0,00001, n = 624, 4 estudos vs. DM = 8,99 cmH₂O, IC 95%: 2,39 a 15,60, p = 0,008, n = 114, 3 estudos).

Evidências provenientes de estudos com qualidade moderada a baixa sugerem que o TMI, comparado aos cuidados usuais, TMI simulado ou fisioterapia, reduz o risco de pneumonia e atelectasia em pacientes submetidos à CRM, além de diminuir o tempo de internação hospitalar.

Xiang Y, Zhao Q, Luo T, Zeng L. Inspiratory muscle training to reduce risk of pulmonary complications after coronary artery bypass grafting: a systematic review and meta-analysis. Front Cardiovasc Med. 2023 Jul 24;10:1223619. doi: 10.3389/fcvm.2023.1223619

Leia mais no PEDro.

Sign up to the PEDro Newsletter to receive the latest news