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Dicas do desafio #MyPTArticleOfTheMonth – como ler ensaios clínicos randomizados

A leitura de ensaios clínicos randomizados é uma habilidade que requer prática. Este post traz quatro dicas para ajudar você a melhorar a leitura e interpretação destes estudos.

DICA 1: entender como artigos descrevendo um ensaio clínico randomizado são organizados

Tipicamente, um ensaio clínico randomizado incluirá os seguintes elementos – Título, Resumo, Introdução, Métodos, Resultados e Discussão. Entretanto, não é necessário ler todos estes elementos ou lê-los nesta ordem. Os elementos mais importantes do artigo são o Título e Resumo (que auxiliam o leitor a decidir se vale a pena ler ou não o artigo), os Métodos e os Resultados (para que seja possível entender detalhadamente a maneira como o estudo foi conduzido e os principais resultados). Um vídeo criado por Sketchy EBM explica estes conceitos.

DICA 2: a leitura dinâmica de algumas seções do artigo auxiliam a decidir se vale a pena ler o artigo ou não

Você precisa confirmar se o estudo realmente é relevante para sua pergunta de pesquisa e se foi conduzido de maneira adequada, com métodos robustos. Estas informações usualmente estão disponíveis no Título e Resumo. Infelizmente, nem todos os artigos são bem escritos, e portanto às vezes é necessário ler em detalhes os Métodos e Resultados. Alguns aspectos a serem observados são (1) sobre o que é o estudo (o grupo de pacientes, a intervenção e desfechos mais importantes), (2) o quão bem o estudo foi conduzido (houve alocação secreta e randomização, cegamento dos avaliadores do desfecho, taxa de seguimento adequado dos participantes e análise por intenção de tratar?), e quão detalhada foi a descrição dos resultados (diferença entre os grupos). O PEDro pode lhe ajudar a identificar ensaios clínicos que de melhor qualidade metodológica através do escore dado pela escala PEDro. É mais provável que ensaios clínicos com escores PEDro altos apresentarão conteúdo válido e dados suficientes para informar a prática clínica em comparação a estudos com baixos escores.

DICA 3: preste atenção em aspectos específicos do artigo enquanto você lê os Métodos e Resultados detalhadamente

Enquanto você realiza uma primeira leitura dinâmica do artigo, procure por informações mais detalhadas a respeito da pergunta de pesquisa do estudo, o quão bem o estudo foi conduzido, e o quão adequada foi a descrição do estudo. Em relação aos participantes do estudo, você precisa entender características chave que são necessárias para a inclusão de participantes em um ensaio clínico, bem como de onde estes participantes foram incluídos. Os participantes do estudo são semelhantes aos que você atende na prática clínica? Em relação a intervenção, procure por detalhes que descrevam quem realizou a intervenção, onde a intervenção foi realizada, quando ela foi realizada e o quanto de intervenção foi realizada. Preste atenção especialmente ao contraste (ou distinção) entres os tratamentos entregues entre os diferentes grupos. Ensaios clínicos são utilizados para testar os efeitos e o contraste entre tratamentos – por exemplo, em um ensaio clínico comparando exercício e educação a apenas exercício, o contraste entre os grupos é a presença do tratamento “educação” e portanto o estudo está testando os efeitos da intervenção “educação” (e não exercício, que foi entregue a ambos os grupos). Ainda é importante notar como foi a estratégia de alocação dos participantes, aspectos relacionados ao cegamento, taxa de seguimento dos participantes ao longo do tempo, como as análises foram realizadas, se o estudo foi registrado prospectivamente (exemplo, usando o Registro Brasileiro dos Ensaios Clínicos) e se o número de participantes recrutados foi suficiente para responder à questão de pesquisa de forma robusta e precisa. Em relação aos resultados, é importante identificar se os autores do ensaio clínico elencaram um desfecho do estudo como o mais importante (o desfecho primário). Observe as diferenças entre os grupos ao final do tratamento e nos momentos de avaliação após o fim da intervenção, bem como para medidas de dano (exemplo, efeitos adversos) e custos relacionados à intervenção. A diferença entre grupos e sua precisão (intervalo de confiança 95%) são mais informativos que o valor de p e a avaliação de significância estatística. Se o desfecho primário é uma variável contínua (exemplo, dor, velocidade de marcha), observe a diferença entre as médias entre os grupos e o intervalo de confiança 95% desta diferença. Se o desfecho primário for dicotômico (exemplo, taxa de retorno ao trabalho), observe a redução do risco relativo ou razão de chance (odds ratio) e seus respectivos intervalos de confiança 95%.

DICA 4: procure por mais informações

Se você definiu que a intervenção apresentou um tamanho de efeito suficientemente importante a ponto de você considerar aplicá-la na prática clínica, você provavelmente precisará encontrar mais informações a respeito da intervenção que foi utilizada no ensaio clínico. Artigos a respeito de ensaios clínicos randomizados apresentam limite de palavras e portanto muitas vezes a descrição da intervenção é insuficiente. Para contornar esta limitação, muitos ensaios clínicos atualmente vem acompanhados da publicação do projeto de pesquisa com descrição mais detalhada da intervenção, e muitos estudos robustos mantém websites que contém estas informações importantes.

A sua habilidade de ler ensaios clínicos randomizados vai melhorar quanto mais você praticar. Comprometa-se a ler pelo menos um artigo por mês e compartilhe suas leituras com fisioterapeutas do mundo todo utilizando a hashtag #MyPTArticleOfTheMonth.

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