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Série da Lancet sobre igualdade de gênero, norma social e saúde

Um dos objetivos do programa de metas “Metas de desenvolvimento sustentável para 2030” da Organização das Nações Unidas é a igualdade de gênero. O foco é na equidade no acesso à independência economica, tecnologia, educação, bem como saúde geral e reprodutiva para todos.

A recentemente publicada série da Lancet sobre igualdade de gênero (‘Gender Equality, Norms, and Health’) conta com 5 artigos. A série promove uma análise aprofundada sobre as inequalidades no acesso ao cuidado em saúde relacionados ao gênero, e propõe medidas e pontos de ação para governos e instituições, líderes do sistema de saúde, pesquisadores e membros da comunidade.

Desigualdade de gênero e promoção de normas socio-culturais restritivas (isto é, regras que regem comportamentos que são considerados aceitáveis para homens, mulheres e minorias de gênero) são determinantes de saúde. Porém, a relação entre gênero e saúde é complexa, uma vez que o gênero interage com outros determinantes sociais (incluindo raça, classe social, idade e habilidade), e estas interações são comumente multiplicativas em vez de puramente aditivas. A série ilustra diversos exemplos neste sentido. Famílias vivendo em comunidades pobres procuram menos tratamento para doenças comunicáveis para filhas mulheres. Mulheres adolescentes em países em desenvolvimento estão em risco aumentado de mortalidade maternal devido a acesso inadequado a tratamentos.

As normas sociais relacionadas ao gênero resultam em diferentes graus de exposição a doenças, incapacidade e lesões. Homens são mais propensos a apresentarem lesões relacionadas ao tralho e acidentes de trânsito, bem como lesões traumáticas. Eles são mais propensos a desenvolverem vício e abuso de substâncias e desenvolverem câncer de pulmão, devido a um senso de masculinidade relacionado ao consumo de álcool, tabagismo e adoção de comportamentos de risco. Atividades de promoção de saúde que visem a reduzir estes estereótipos são essenciais para reduzir os danos tanto ao nível do indívuo quanto do ponto de vista dos sistemas de saúde.

Como fisioterapeutas, é importante estarmos cientes dos nossos próprios viéses de gênero, bem como viéses de gênero comuns em nossos sistemas de saúde. A série fornece evidências de que mulheres ao redor do mundo recebem tratamentos para dor de pior qualidade, são submetidas a rastreamento de doenças menos frequentemente, recebem tratamentos menos agressivos e acompanhamento clínico subótimo. É nosso papel como fisioterapeutas defender equidade do ponto de vista da avaliação e tratamento de mulheres com dor, bem como promover rastreamento adequado para condições negligenciadas, tais como doenças cardiovasculares em mulheres.

Pesquisas suportam a noção de que sociedades mais igualitárias e com maior diversidade apresentam melhores resultados do ponto de vista da saúde e expectativ de vida para homens e mulheres. Este fato deveria informar o desenho e implementação de programas de atenção à saúde mundialmente. Aumentar a representação feminina em posições de liderança e governança, bem como integrar módulos de treinamento relacionados a viéses de gênero para profissionais da saúde pode contribuir para que países atingam as metas estabelecidas pelas Nações Unidas.

Pesquisadores também precisam considerar viéses de gênero na pesquisa em saúde em vários níveis, tais como amostragem e desenho de estudos, e análises de ensaios clínicos randomizados. Do ponto de vista de pesquisas a nível populacional, é importante que as questões sejam criadas de forma a não conterem viéses de gênero. Gênero é uma variável importante na pesquisa em saúde.

A editora executiva do Lancet, Jocalyn Clark, conversou com Gary Darmstadt (Stanford University, EUA), o lider da Série da Lancet sobre gênero e saúde, em um podcast disponível em https://www.thelancet.com/series/gender-equality-norms-health.

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